De Seminário para Meninos Órfãos de Ambos os Sexos a Colégio de S. Fiel (1852-1910) - Volume I
O Colégio de S. Fiel, situado no Louriçal do Campo, concelho e distrito de Castelo Branco, foi, a par do Colégio de Campolide (ambos pertença dos Jesuítas), um estabelecimento de ensino primário e secundário para elites, ao ponto de ser considerado o melhor estabelecimento de ensino em Portugal no finar do século XIX. No entanto, foi bem modesto o seu nascimento. No ano de 1852, o egresso franciscano Fr. Agostinho da Anunciação fundava, na sua terra natal, um orfanato, preferencialmente para crianças sem pai nem mãe. Não só encontrou dificuldades para levar a cabo o projecto, que o ambiente politicamente tenso e as ideias liberais contestavam, como foi vítima de perseguições e maldades, chegando ao caso extremo de lhe incendiarem o estabelecimento pio.
No ano de 1863 deu-se uma viragem radical na sua administração e modo de ensino: os jesuítas, de forma dissimulada (pois as ordens religiosas só existiam em Portugal de forma clandestina) tomaram conta dele e inculcaram a marca que lhes era própria desde o século XVI: qualidade de ensino, disciplina rígida (sobretudo para os alunos internos) e educação religiosa massiva. O êxito da sua actuação não tardou. Ampliaram as instalações, adquiriram instrumentos tecnológicos e material pedagógico de ponta, adoptaram as visitas de estudo como complemento prático das aulas e, em pouco anos, o estabelecimento assumiu a vanguarda do ensino em Portugal. Não foi só em matérias clássicas que o colégio brilhou, também no ensino da música, do desenho à vista e dos jogos gímnicos se destacou. A coroa de glória do colégio, porém, chegou com a revista Brotéria: fundada em 1902 e que ainda hoje se publica.
O funcionamento do estabelecimento contava com um batalhão de gente assalariada e coadjutores, que asseguravam serviços como os de vigilância das salas de estudo, da biblioteca, apoio aos laboratórios, cantina, lavandaria e engomadoria e os padres asseguravam os deveres religiosos que o regulamento interno do colégio exigia aos alunos: confissões, exames de consciência e serviços de apoio à igreja e aos ritos religiosos.
Pelo colégio passaram alunos que se distinguiram na medicina, na arte, na literatura, na etnografia, na história (nacional e local), na filosofia, na arquitectura, no teatro e nos vários campos da vida pública portuguesa, em especial na 1.ª República e no Estado Novo. Na medicina sobressaem nomes como António C. Egas Moniz, António Anastácio Gonçalves, Américo Cortez Pinto ou Fausto Lopo de Carvalho; na arte: Luiz Chianca de Pina Manique; na literatura: Augusto Gil, Mário Saa ou Vergílio Godinho; na etnografia: Jaime Lopes Dias e Adelino Robalo Cordeiro; na história: António Baião ou António Salvado Motta; na filosofia, Francisco R. Newton Macedo ou Luís Cabral de Oliveira Moncada; na arquitectura, Manoel dos Santos Sal e no teatro, Robles Monteiro, entre muitos outros.
A implantação da República arruinou a grandiosidade desta obra, bem como a sua prossecução, e ainda confiscou todos os bens à Companhia de Jesus.
No plano deste estudo, falta publicar o II volume, que sairá em breve.
Autor: Leonel Azevedo
Género: História do Ensino
Nº de Páginas: 480
Edição: Rvj Editores
Ano de Publicação: 2017